quinta-feira, 29 de março de 2012

O PRIMEIRO BEIJO

O PRIMEIRO BEIJO
    Juliana Khouly, naquele tempo era normal, hoje é linda. Com seus traços do oriente médio, pele morena clara, olhar rasgante. Hoje proprietária de uma agência de comunicação, já trabalhou em rádios e eventos. Nunca nos cruzamos na vida profissional, somos contatos distantes. Apenas novidades via twitter, ela tem a vida agitada.
    Juliana tem como vantagens um belo sorriso, um carisma incrível e uma vontade incansável. Naquela época infantil, já possuía muita vontade, escolhia seus pares nas danças folclóricas, era amiga de todos, mas escolhia poucos para andar por perto. Devo confessar que além da minha infância, tive uma adolescência próxima, onde vi despertar uma líder, uma garota boa nos esportes e de notas razoáveis e sem muito esforço.
    Sou um cara precoce. Precoce por experiências, sequioso por tentar. Foi no jardim de infância, meu primeiro beijo. De brincadeira de infância guardei muitas lições.
    Juliana me escolhera aquele dia, para abraçar, beijar e fazer promessas de amor na hora do recreio. Fui forçadamente agarrado, a criança tímida, o menino descoordenado. Por que eu, pensei? Por  que essa menina linda e simpática quer me beijar. Sou um chato, mais um.
    Mentira, descobri que apesar de tímido, sempre fui comunicativo, era líder entre os meus, não por força, mas por razão. Sempre defendi e argumentei meu ponto de vista. Como um advogado que sempre usou a lógica e o bom senso ao meu favor. Sorte minha descobrir que na realidade a justiça não é justa. E que em meus anos de faculdade em publicidade e propaganda, sempre busquei defender idéias e coisas, não me arrisco em deixar a vida das pessoas em minhas mãos.
    Mentira novamente. Acho que os trajes é a formalidade me afastaram do mundo do direito. Advogados me irritam, sempre tem que ter razão. Poucos são os de bons argumentos, e raros os de boas idéias. Considero a maioria deles vendidos ao dia-a-dia, e os poucos de boas idéias loucos lutando com moinhos de vento. Não acredito nas profissões, acredito nas pessoas.
    Voltando ao beijo, roubado, praticamente um assalto. Mãos não ao alto, mas no pescoço, o jeito malandro e infantil se fundiram. Distância e após tudo isso o sinal. Salvo e abandonado pelo gongo.
    A luta não foi cansativa, mas a mente pensava. Sempre um analista de situações não entendia muito bem. Chegando em casa, teses, teorias e expectativas. Era amor? Talvez. Um fascínio infantil com gosto de quero mais.
    Quase não durmo pensando em Juliana, sim, ela tem nome, tem corpo e me quer. Levanto cedo, me asseio. Pasta de dente, perfume do pai, pente e gel. Mais que isso uma criança não precisa.
    A mãe estranha. Olha o garoto e pergunta: - O que está acontecendo? E a resposta: - Nada não.
    Nada não é a maneira mais simples de exemplificar todos os desejos do mundo, muito mais ávido e voraz do que a mudança do adolescente. Incomparável aos desejos de um adulto. Crianças são donas das melhoras idéias, simples e puras.
    Naquela época queria é ser feliz, dividir o lanche na escola e passear de mãos dadas. Sabe que não mudou muito, acho que agora anseio dividir um futuro.
    Voltando à ida a escola, a mãe desconfiada leva o filho, eu todo arrumado, para mais um dia escolar.
    Chegando lá, Juliana já está a passear com outro, e tento aprender algo dali. Em prantos, volto para casa e mãe apenas a desconfiar.
    -VADIA! Grito alto, e um tapa e briga da mãe me fazem pensar. Aprendi que os desejos mudam rápido. Que a vontade de se ter passa. Que criar expectativas é uma merda.
    Juro que esqueci e relembrei esse fato por anos. Juro que refleti tentando achar alguma resposta.
    Não precisei de respostas, elas já estavam lá. O problema que isso matou algo de mim, não sei se a inocência, não sei se a esperança em outra pessoa. Anos depois sempre desconfiei e demorei a acreditar. Palavras e atos, não bastam. Mas algumas vezes tentar é o suficiente. Tentar é dormir em paz. Aquele dia, apenas raiva, choro e decepção.


Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

Nenhum comentário:

Postar um comentário