terça-feira, 10 de abril de 2012

ANOS INCRÍVEIS

ANOS INCRÍVEIS
    Anos Incríveis (The Wonder Years) foi uma série de tv norte-americana que foi exibida de 1988 até 1993, pela ABC. Posteriormente foi dublada e retransmitida no Brasil através da TV Cultura.
    A história da série envolve questões sociais e fatos cotidianos vividas pelo protagonista, Kevin Arnold, que passa pela adolescência no final dos anos 60 e início dos anos 70 (sim, estou falado do século passado). A série tratava do dia-a-dia e como este era sentido pelos adolescentes. A maneira que  sentiam: a morte de parentes próximos, a separação dos pais, primeiro emprego, enfim temas rotineiros que tornavam interessante observar algumas mudanças e a relevância que davam a certos assuntos na época.
    Gwendolyn "Winnie" Cooper era o interesse amoroso de Kevin, pessoa por quem ele sofre a maior parte de sua infância e adolescência. Winnie sempre foi uma novela, de amor e ódio, de compreensão e cumplicidade. Lembro que sofri muito também, por algumas garotas. Mas a mais relevante da adolescência foi Vivian.
    Vivian sempre gostou de coisas diretas e emocionantes. Ariana, impulsiva e charmosa. Gostava de rock, usava calças rasgadas que realçavam as curvas em seu quadril. Quando possível usava camisas ou blusas de flanelas xadrez. Gostava de botas e vestidos. Muitas vezes quando desarrumada lembrava um estilo um pouco Grunge eu diria. Escutava: The Rolling Stones, Bon Jovi, Aerosmith, Led Zeppelin, U2, Nirvana, Pearl Jam, Hole, mas sua banda favorita sempre foi The Beatles.
    Isso me lembra que sempre me relacionei muito bem com as pessoas que gostavam dos Beatles. Apesar de serem considerados de certa forma unanimidades, como Legião Urbana no Brasil. Considero também o fato que se ama ou se odeia essas tais bandas. Outra conclusão que ouvi de uns amigos: Existem dois tipos de pessoas as que gostam de Oasis e as que gostam de Blur. Vivian adorava ambas as bandas, apesar de eu nunca ter sido muito fã da arrogância dos irmãos Gallagher que se consideravam os novos Beatles, ou seja, eu era dos que gostava de Blur (exatamente como meus amigos que chegaram a esta estranha conclusão).
    Vivian era poucos meses mais velha que eu, tinha já seus dezesseis anos. Cabelos curtos, escuros com mechas claras (poucas garotas dessa idade tinham cabelos curtos, na verdade, na época, ainda eram atribuído uma relação forte com do corte de cabelo com o lesbianismo). Possivelmente tenha sido Vivian que tornou minha tara por pescoços tão marcante com a sua pele clara e o mesmo carinho pelas crônicas vampirescas de Annie Rice.
    Ela vivia nos corredores do meu curso técnico em desenho industrial. Mas sempre a encontrava pelos bares com alguns veteranos de nosso curso. Algumas vezes de outros cursos. Poucas vezes só. Dizíamos que era formada em patiologia (o estudo do pátio do curso).
    A turma de amigas dela tinha hábitos estranhos, como apelidar as pessoas com marcas de bombons de chocolates. Era como se abrissem uma caixa de bombons sortidos e escolhessem primeiro o que mais gostavam e ordenando numa seqüência totalmente subjetiva o apelido do seguinte.
    Na teoria dos chocólatras existia chance para todos, pois nunca sobrava chocolate. Na falta dos chocolates, davam apelidos de frutas. Já sabiam naquela época que o excesso de doces podia fazer algum mal. E podiam considerar de algum modo as frutas mais saudáveis.
    Nunca consegui traçar uma linha lógica para esses apelidos e sempre agradeci por serem  sempre marcas e não tipos, sempre deixaram os meus queridos chocolates brancos e amargos em paz.
    Não sei se andava com essa turma por saber conversar ou simplesmente por ser um excelente ouvinte que nunca julgou as loucuras adolescentes. Ouvir as lamentações de brigas de famílias, a tristeza de incompreensão e falta de amor entre o infantil e o adulto. O medo do sexo e o atraso na menstruação, o uso de drogas legais e ilegais, discussões políticas como: a eleição de Fernando Henrique Cardoso, sucesso do plano Real, privatizações das Estatais e principalmente a greve dos professores.
    Em passeatas em defesa da greve dos professores, nos sentíamos como se estivéssemos em meio ao filme “O Que É Isso, Companheiro?” – que retrava a história do sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, em setembro de 1969, por grupos que lutavam contra a ditadura militar.
    Porém, quando estávamos apenas eu e Vivian, geralmente discutíamos nossos relacionamentos com as outras pessoas e de nossas dificuldades nos estudos ou ainda muito sobre poesia e livros. Passávamos muito tempo juntos, mas aos poucos ela me conquistava.
    Brincava comigo, pela minha expressão séria e carrancuda. Sempre criticando minhas idéias geniais e sonhando alto. Eu a repreendia reiteradamente: - Menos Vivian! - Menos Vivian!
    Adorava assistir as suas exibições com o violino e sempre trocávamos cartas. Quando em casa ficávamos horas no telefone. O assunto nunca acabava, e fazíamos questão de sempre demonstrar nosso afeto, usando insinuações e provocações.
    Foram seis longos meses para ultrapassar a barreira de amizade para conseguir roubar um beijo, dos lábios vermelhos de batom sabor morango. Apenas um beijo.
    Lembrado, esquecido, deixado de lado e sempre usado como arma. Ainda somos amigos e ela é professora de português e violino.
    Uma vez Vivian me ligou após ver fotos minhas numa rede social. Ela apenas disse: - Até que você melhorou bastante! Eu perguntei: - Então, você pegava? E ela me corta: - Já peguei!  (rimos infantilmente) .
    A conversa segue pergunto das aulas, do violino, da vida... Ela começa a me provocar, perguntando o que eu tinha mudado e tínhamos apenas vinte e seis anos.
    Na verdade muita coisa havia mudado já, mas ela continuava a dizer besteiras e até que eu digo. OK, VIVIAN... MENOS, MENOS VIVIAN! e ela apenas ri! Ri enlouquecida.
    -Sabia que liguei apenas para escutar isso? Ela diz.
    E eu, nosso, realmente algumas coisas mudam. E ela: - Pois é, estou praticamente casada.
    Neste momento me lembre da crise de Rob Fleming em Alta Fidelidade. E rio novamente e apenas digo: - Parabéns! com uma voz pouco entusiasmada, mas aparentemente feliz.
    Ela: - Pois é, talvez eu tivesse que viver um pouco mais, talvez eu se tivéssemos...
    Eu começo a cantarolar a música Quase – Pato Fu, e caímos na risada novamente.
    Ela: - Tá, esquece!  Eu: - Nunca!
    Ela: - Sou ridícula, né? Eu: - Menos Vivian! - Menos Vivian!
    E rimos novamente.
    Ela se despede e conversamos muito pouco depois disso. Passaram alguns anos e perdemos contato. Mas esses foram alguns anos incríveis que passei com a minha Winnie.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

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