domingo, 15 de abril de 2012

DESAPEGOS


DESAPEGOS
    Uma estrada definida? Não tenho crença em Deus. Prefiro que meu destino seja rascunhado, com linhas finas e que a obra final me surpreenda. Tenho potenciais futuros que adoro estragar tomando decisões pouco óbvias, prefiro um desastre divertido à uma previsão monótona. Brinco de senhor do meu destino, mas sinto que livre arbítrio, é sim, uma falsa ilusão de liberdade.
    Nessa crença os carneiros no pasto acreditam ser livres. Eu acredito que escolher todos os caminhos seja a real liberdade. Hipócrita? Um pouco... Arrogante, não seria um insulto.
    Isso não significa que eu seja mau, pelo contrário. Respeito a opinião de todos e tenho para mim que religião não forma caráter, mas que pode sim dar um bom norte, como causar danos irreparáveis numa personalidade.
    Sim, tive uma boa educação cristã, quanto a ser um seguidor de Cristo ou filho de Deus. Prefiro pensar no acaso, nas coincidências da vida. Prefiro ser insignificante ao me preocupar com pensamentos que não cabem em mim. Não tenho fé, não duvido que exista. Apenas me considero incapaz. Uma cabra em meio às ovelhas, como diz a música: “Now I just want to play on my panpipes/I just want to drink me some wine/As soon as you're born you start dyin'/So you might as well have a good time/Sheep go to heaven/Goats go to hell” (Sheep Go To Heaven – Cake)
    Acredito nos astros e no tarô, prefiro o tarô de Marselha, mas gosto do cigano ou o egípcio, a astrologia. O caminho das estrelas me atraiu sempre, nunca gostei do Sol, a Lua e as estrelas sempre me seduziram. Como uma série de aventuras amorosas, inúmeras e quem sabe um dia, encontrar meu astro maior. Talvez encontre minha Lua, mas tive que lembrar das estrelas para me dedicar de verdade a alguém.
    No meu caminho encontrei pessoas inesquecíveis. Vivi momentos únicos e como um telespectador, diria que minha vida daria uma ótima ficção. Nestes encontros, mais difícil que encontrar um sentimento, mais difícil que conquistar uma relação, às vezes o mais complicado foi superar e deixar o que não funciona mais.
    Dar chances, voltar e perdoar. Insistir em escolhas, supor e idolatrar uma idéia. As ilusões da paixão.
    Quando mudamos, tentamos, nos esforçamos. As coisas nem sempre não funcionam devido aos nossos problemas.
    Sou uma pessoa persistente. Luto de olhos abertos e sem mentir para mim. Mas em relacionamentos, escuto, converso e discuto. A batalha que se trava entre amigos, amantes e irmão são as mais barulhentas e dolorosas e tendem a ser as mais honestas.
    Não tenho medo de interpretações ruins, sou passível de erros. Alguns imperdoáveis, porém dormir tranqüilo é uma meta todas as noites.
    Então acordamos em meio de uma relação complicada e temos que dar um ponto final. Não por falta de coragem, não por falta de esforço. Termina-se uma história por ela não funcionar. Por ser apenas uma ilusão, um reflexo de nossos desejos que nunca se torna uma realidade suportável.
    Desapegar-se, perder a afeição que se tinha antes, soltar-se, desgarrar-se. Desapego não porque não valeu viver, não pelo que passou. Ao reverso, pela chance de errar novamente e eventualmente acertar. Não insista pedindo chances. Permita-se viver novas experiências sem machucar alguém e sem se machucar.
    Respeito. Respeite.
    Pontos finais não viram reticências.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

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