segunda-feira, 16 de abril de 2012

SINDICATOS NOTURNOS

SINDICATOS NOTURNOS
    A noite sempre foi meu lar. Uma casa de desabafos, interações, surpresas e emoções. Compartilhar momentos com estranhos que depois marcam nossas vidas. Dar chances ao destino.
    Em especial a noite curitibana sempre foi um desafio para desbravadores.
    Sou publicitário, estudei o curso técnico de desenho industrial, sou libra com ascendente em peixes, galo no horóscopo chinês. Um cara equilibrado e com um toque de artista. Adoro sentir as palavras explodindo na mente, sonorizadas expressando emoções. Junto aos sons, músicas, imagens e vídeos.  A multimídia é sempre um mundo de infinitas possibilidades e criações e destruições.
    Alguns me chamam de manipulador de informações (um spin doctor), outros preferem dizer que eu realmente sei como vender um bom produto. Sim, o produto deve ser bom. Não aceito vincular meu nome a qualquer quinquilharia, não engano meu público. Explicito qualidades e maquilho transformando o normal em excepcional. Sempre sincero em minhas decisões, não gosto da mentira, ocultar muitas vezes é mentir.
    Todavia, mesmo acreditando ser um bom comunicador, sempre tive dificuldades em adentrar em turmas do cenário noturno curitibano. Alguns bons contatos sempre facilitaram a entrada.
    Tornar-se um cruzado solitário em terras desconhecidas, Muitas vezes desconhecidas por abandonar meus hábitos noturnos devido a relacionamentos. Cruzado solitário por gostar de sair sozinho, sem travas, sem ajuda. Sair sozinho sempre aumentou minha auto-estima. São poucos os bons parceiros de balada e depois que se conhece bem um lugar, até os funcionários se tornam bons parceiros. Ah, lembra dos dois telefones errados que ganhei? Um deles foi de uma barmaid, conto essa história outra hora.
    Sendo uma pessoa eclética, freqüentei vários tipos de casas noturnas.  Meus locais favoritos eram clubs, locais alternativos e pubs com música ao vivo.
    Em locais alternativos, muitas vezes recebi cantadas de homens, mas sempre de maneira educada. Nunca tive problemas e sempre muito bem recebido. Minha mãe sempre ficava preocupada com meu encontro com algum conhecido nestes locais. (Eu respondia: - Mãe, se alguém me encontrar lá dentro é porque também estava lá. – provavelmente outra pessoa sem preconceitos)
    Nos clubs geralmente me aproximava das pessoas que amam dançar. Conversávamos pouco e dançávamos muito.
    E nos pubs senti sempre uma maior dificuldade para me aproximar. As pessoas pareciam ser mais desconfiadas, menos atraentes nas conversar e muito desinteressados em qualquer coisa nova.
    Na minha adolescência, fui clubber uma geração que ajudou na popularização dos piercings (tive 3, 1 na sobrancelha e 2 na orelha, todos do lado  esquerdo). Usava roupas leves e confortáveis, não pelas marcas, mas pelo simples conforto.
    Umas das coisas que os clubbers tinham, era aceitar todos os tipos de tribos e vestimentas.
    Talvez por sermos fruto do início da geração Y, pelo menos eu sempre fui um artista, com os desenhos, com as palavras, com as músicas e com os vídeos. Gosto de respostas rápidas, pessoas sagazes e multi-tarefas. Entediam-me as pessoas que são sempre as mesmas, tenho várias turmas, e cada qual com seus motivos particulares. Me considero uma pessoa bem quista, educada e que consegue conviver com as diferenças muito bem. Minha tranqüilidade e segurança me permitem trafegar pelos os mais diversos lugares sem que me incomode com roupas ou estilos. Sempre me considerei “neutro”.
    Recordo-me de uma festa rave onde me estava vestido de terno e gravata, usando sapatos sociais, por emendar de uma aula noturna após o estágio. (Não foi uma experiência muito agradável ter que me vestir arrumadinho numa agência de publicidade, algo me diz que os trajes prendiam a imaginação que acarretou posteriormente no encerramento das atividades empresariais pelos donos).
    Voltando a história da rave, acho que a tribo me fascinou por não me julgar pelos trajes, por gostarmos do mesmo tipo de música e serem tão receptivos. Ser alternativo naquela época, era não ligar para os panos que as pessoas usavam.
    Com os anos, me distanciei um pouco dos meus amigos, que deixavam as cores chamativas dos clubbers de lado e que em sua maioria continuavam a se destacar por suas personalidades únicas, tornando-se mais excêntricos e exigentes.  Suas novas turmas eram mais fechadas e restritas.
    Comecei a reavaliar os novos locais que começava a freqüentar 10 anos após meu início no mundo clubber, eu também mudava, meus som como DJ deixava de ser o house comercial e o drum`n bass, para se tornar 80`s, 90`s e indie rock. A vida noturna deixava de ser minha segunda casa e se transformara em um Sindicato, não generalizado, mas agregando principalmente pessoas com mesmos interesses artísticos e ainda alguns Fashion victims. Encontrei amigos que partilham dessa opinião.
    Confesso que também mudei, cabelos com mechas azuis e prateadas não faziam mais o meu estilo. Minhas roupas são mais adaptadas para freqüentar qualquer lugar e que hoje também faço parte de vários sindicatos.
    Não sei se mais exigentes apenas, ou mais cautelosos. Sei que me adaptei.
    Parafraseando um grande amigo. – Antes eu tinha sonhos mirabolantes ao usar minha imaginação, talvez me tornar um cientista louco ou um super-herói.  Nunca quis ser um cruzado solitário.
    Hoje tenho desejos bem realistas. QUERO SER UM NINJA!

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

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