quinta-feira, 5 de abril de 2012

A ÚLTIMA DANÇARINA

A ÚLTIMA DANÇARINA
    Ela dançava loucamente, daquele jeito que se dança como se ninguém estivesse te vendo. Seus cabelos balançavam, sua franja cobria o rosto de uma maneira sexy. O som era drum`n bass, “Tem que Valer – Caleidoscópio“.
    Tinha os cabelos curtos loiros pintados cobrindo o pescoço, sobrancelhas castanhas claras e olhos castanho mel. Uma tatuagem de um tigre branco saindo das costas. O tigre brilhava na luz negra e aparentava  defende-la enquanto dançava. A saia xadrez em vermelho com listras verdes e meias brancas longas, uma camisa curta, quase colegial.
    Ela cantava e eu acompanhava. Acompanhava sua voz, seus passos, seu olhares. As amigas dela me acompanhavam. No meu run saborizado –maçã - no meu perfume embriagante. Estávamos celebrantes. O botão da camisa tangenciava os seios médios e firmes. A gola encobria e revelava o pescoço.
    Certo que meu amigo estava discotecando, colocando a sua seleção nomeada pussy cat (as músicas sempre tinham um vocal forte, feminino, geralmente rápido e de batidas fortes, algumas tinham acompanhamento de piano e sax, outras retoques pincelados de violino, muito house chicago, house diva).
    As garotas dançavam, bebiam e elogiavam meus passos. Algumas comparavam-me como um equalizador digital, um display de ondas rápidas e de movimentos marciais que lutavam para alcançar a garota protegida pelo tigre branco. Bocas, sorrisos, óculos escuros. A luz do estrobo marcava o ritmo das fisionomias extasiadas. Incansáveis até as luzes da boate se acenderem e irmos para fila após o convite de retirada.
    Silêncio constrangedor, mãos dadas e nem sabia seu nome. Tínhamos ensaiado beijos imaginários, tínhamos fantasiado rostos orgasmáticos, tínhamos compartilhado um momento. E agora, apenas o silêncio. Mão dadas suadas, palavras faltam, palavras engasgam, frases simples tornam-se trava língua e o ridículo nos faz rir.
    Do lado de foram frases como: - Meu, você dança muito! – Ah, você também é incrível. Mãos se separam. Levanto meus óculos de aros largos e pretos, com formato retangular. Qual o seu telefone? Qual é o seu nome? - eu pergunto com um tom nerds e envergonhado. Escuto um número e o nome Ana. Ana, do quê, tenho muitas Anãs em meu celular? – eu pergunto. ANA PORRA! PORRA LOUCA! – ela responde.
    Seguro Ana pelo pescoço e dou um beijo. Não ensaiado. Não fantasiado. As amigas de Ana gritam, nos separam. Dizem que devem ir, que já chamaram o táxi.
    Eu jogo Ana no capô de meu carro e dou mais um beijo e digo: - Vamos comigo, cancelem o táxi. Ana sorri e morde os lábios inferiores com seus incisivos superiores.
    As meninas entra no carro, pergunto seus nomes. Estão em meu carro Carol, Dani e Nina no banco de trás, Ana a frente com seu corpo virado para mim. No rádio tocando Be-Bop-A-Lula – Stray Cats.
    Nina grita: - Muda, coloca algo mais animado. Ana responde: NÃO TOQUE NESTE RÁDIO. Ana se movimenta mexendo os ombros de um lado para o outro e acompanhando lentamente o movimento com o pescoço, fechava os olhos e como se Brian Setzer estivesse cantando para ela.
    Nina fala novamente: -Hey, você me escutou? Eu pergunto: É aqui que vocês moram, apontando para o prédio enquanto no rádio toca Disarm – Smashing Pumpkins.
    Dani responde: - Vamos descer. As meninas descem, menos Ana que sorri e me desarma. Ana sorri e me beija. Eu sorrio.
    Ana sai do carro, a rua é escura e sem saída. Tudo apagado. Apago as luzes, desligo o som e saio do carro. Vou jogar Ana novamente no capô do carro e ela me vira e fica sobre mim.
    Ela abaixa a calcinha e abre minha calça. Fazemos sexo rápido, silencioso e intenso. A sua perna levantada apoiada no pára-choques do carro. O ângulo perfeito de sua perna. E seus lábios em meu pescoço. Gozo, gemido reprimido, olhos cerrados.
    Ana sorri e me desarma. Ana sorri e me beija. Eu já estava sorrindo e a seguro pelo pescoço que mordo delicadamente.
    Até e boa noite. – ela diz. Uma ótima semana e até. – eu respondo
    Sigo a saia com o olhar, ela se vira para ter certeza que estou observando. Ela pisca. E entra no prédio sem portaria.
    Noite louca. Porra louca!

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

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