sexta-feira, 13 de abril de 2012

UM CARA DIVERTIDO

UM CARA DIVERTIDO
    Quando namorei Patrícia foi uma experiência interessante. Após passar um ano tendo as melhores e piores experiências da minha vida, tinha encontrado uma garota que parecia valer a pena.
    Naquele ano estava numa fase de aproveitar a vida, ou apenas me deixar levar. Tinha um estilo legal, mas ainda não era um “Win Lord” (um vencedor no jogo da conquista). Minhas amigas diziam que eu estava mais para um “wannabe galinha” (um cara que se fazia de pegador). Mas no fundo continuava ser o mesmo romântico casualmente rápido na pegada, com frases nocauteantes e algumas vezes entediantes discursos que me deixavam falar com as paredes.
    Talvez um pouco confiante nuns dias, desesperado em outros, mas um pouco largado e preguiçoso.
    Nos conhecemos alguns anos antes, numa reunião de amigos - um churrasco com muita bebida, onde nos perdemos em braços diferentes. Ela tinha uma conversa legal. Não se apresentava timidamente. Personalidade forte com opiniões fundamentadas.
    Garota batalhadora, esforçada em alguns momentos. Tinha uma relação de amor e ódio com a família. Acredito que grande parte pelo negócio familiar em que trabalhavam.
    Paty era uma “gamer girl”, viciada em jogos de computador e videogames.  Seu conhecimento “nerds” era vasto. Gostava de Marion Zimmer Bradley, Bernard Cornwell, Anne Rice, George R. R. Martin, mas não gostava de Douglas Adams.
    Dizia que eu deveria conhecer melhor Neil Gaiman, e não era a primeira pessoa que me recomendava. Na verdade, conhecia pouco, ainda conheço pouco. Uma linda garota gótica me indicou ler mais e sua irmã insistiu. Outras duas amigas com gostos parecidos com o meu também recomendaram. Mas destas garotas falo em outra história.
    Tinha uma opinião forte sobre Star Wars. Era do tipo que dizia que no lado negro da força eles têm cookies. Uma das nossas grandes brigas. Sim, eu sou um Trekker. Vida longa e próspera é um lema em minha vida. Mas nunca fui daqueles que odiava Star Wars, apenas gostava mais de teletransporte, comunicadores, raios phasers e o toque vulcano quando comparado com as os sabres de luz, o uso da força e ter que tomar um partido na guerra.
    Acho que meu fascínio com a comunicação sempre esteve em minhas veias. Desde criança passava horas num telefone. Na minha infância foram inventados os celulares. Os aparelhos mágicos que me conectavam a qualquer pessoa que tinha um telefone.
    Aos quinze anos um aparelho celular foi o primeiro presente que me dei de verdade, aos doze anotava o telefone das meninas numa agenda de bolso, e sempre tinha uma caneta comigo, aos treze tinha comprado uma agenda eletrônica que já havia lotado de telefones, aos catorze, eu tinha uma calculadora HP 48G que também estava lotada com dados dos meus colegas e aos quinze o primeiro celular. Geralmente esses aparelhos tinham uma capacidade para 100 até 200 números de telefone. Sempre conseguia extrapolar, não foi diferente com o novo telefone.
    Não que eu fosse um cara que pegava vários telefones das meninas. Isso tudo era conseqüência de desde cedo ter sido representante de turma, feito alguns trabalhos voluntários e como um dos pouco que possuía um telefone móvel, era um ponto de referência.
    Mas lembro que minha adolescência foi marcada por uma série de conquistas de números de telefone, e apenas 2 vezes os números foram errados. Dois grandes traumas que contarei outra hora. Poucos os sucessos em ligar após pegar o telefone. O tempo passava rápido demais.
    Paty era desprendida, uma personificação de seus longos cabelos negros e lisos que brilhavam que destacavam sua pele pálida. Não possuía telefone celular, odiava o sentimento de ser observada. Era uma garota segura quanto a nossa relação e seu maior mérito era a confiança.
    Nos reencontramos numa casa noturna, ela estava acompanhada de um amigo e eu estava matando saudades de Léa um tempo antes num barzinho onde bebi várias cachaças artesanais aromatizadas.
    Avistei Paty na fila, nos abraçamos para nos proteger do vento gelado.
    Ela tinha covinhas no rosto e nas costas, seu abraço e suas mãos em meu peito criavam algum tipo de lembrança que passava um sentimento misto de proteção e carinho imenso. Horas de conversas para atualizar o papo e beijos no rosto na despedida.
    Ficamos depois de um cinema, após assistir todo filme, pode ser pouco romântico, mas como cinéfilos, era uma atitude óbvia.
    Ela respeitava minhas sessões de RPG e minhas idas aos bares. SIM, sou o tipo de nerds social. Consigo compatibilizar vida amorosa, social e ainda reservo tempo para ter hobbies. E acho que isso era um dos motivos para nossa relação começar. Dar uma chance para os outros é difícil, mas quando as pessoas dão a chance para você, eu não costumo hesitar.
    A vida na cama era excelente, porém tempo passou e a relação esfriou,  por mais perfeita que fosse ainda faltava algo.
    Talvez dessa vez eu tivesse encontrado alguém mais nerds que eu.  Talvez ela precisasse da minha companhia para seus jogos.
    Não, eu tinha me tornado o cara divertido. O cara divertido do bar, o cara divertido na cama. Um palhaço, um comediante stand up, um bobo da corte que improvisava em qualquer platéia.
    Vi que aos poucos ela me afastava de sua rotina, de seu dia-a-dia.
Descobrir que divertido pode ser conveniente, mas não suficiente.

Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb

Um comentário:

  1. Panda, curti muito o blog!! Continuarei acompanhando sempre!!! Beijos!

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