O SEGUNDO NÚMERO DE TELEFONE ERRADO
A noite começou tranqüila, fui assistir um jazz e um blues num dos bares alternativos que freqüento.
Encontrei alguns bons amigos, muito bons amigos mesmo. Um dos meus consigliere estava lá, mas foi uma noite em que decidir conversar com as pessoas sozinho. Não sei se mania, não sei teimosia. Tenho essa necessidade de interagir sozinho.
Foi uma ótima noite. O som foi temperado com muito: Muddy Waters, Tom Waits, Willie Dixon, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Ray Charles.
A casa não estava muito cheia e vi uma barmaid nova, fui me apresentar, pedi para ela me dar doses separadas para fazer um coquetel para mim. Adoro ver as bebidas na estante e provar coisas novas, fora que é muito mais fácil ganhar doses nas baladas que garrafas de cerveja.
Achei a garota interessante, Janaína era nova no bar e cursava algo relacionado a artes. Tinha longos cabelos castanhos e olhos escuros. A pele bronzeada, era de baixa estatura, seios pequenos e cintura fina.
Conversamos sobre música, era uma fanática por rock.
Janaína pareceu ser uma garota interessante, falei que já tinha trabalhado em bar. Falamos sobre alguns fetiches. Ela me contou que adorava fantasias e trajes. Interpretar para ela é uma forma divertida e necessária num relacionamento.
Falei que gostava disto também e confessei que sou um pouco podólatra: a forma, a delicadeza dos pés femininos sempre me atraíram.
Ela saiu do balcão dando a volta me olhando diretamente nos olhos, e perguntou o que eu achava de seus pés, ela estava com um peep toes (sapato que deixa pelo menos um dedo amostra, meu segundo tipo de sapato favorito, sempre adorei o chanel) preto com salto altíssimo.
Ela praticamente desfilou na minha frente e retirou o calçado esquerdo, inclinando-se lentamente para frente, deixando a mostra os seios com seu decote e empinando a perna esquerda para trás. (Achei a inclinação desnecessária, mas totalmente sexy).
Ela tinha pés lindos e as pernas bem delineadas, o conjunto era excelente.
Conversamos um pouco mais e quando fui embora pedi o telefone de Janaína. Ela sorriu e anotou o nome e os números num guardanapo - cena clássica de bar que eu já havia encenado inúmeras vezes quando era bartender.
Liguei algum tempo depois, me senti humilhado. O número não existia. Era a segunda vez que me davam o telefone errado.
Fui conversar com meu consigliere, chamo-o assim, pois ele é um grande conselheiro e amigo fiel. Contei a história humilhante e ele me defendeu, disse que lembrava da garota, mas não a conhecia.
Depois daquela noite, sempre anoto o número direto no meu celular e confirmo para ver se o telefone vai tocar.
Bom, alguns meses se passaram e não é que a garota resolve dar em cima de me consigliere.
Ele sempre educado, daqueles com síndrome de melhor amigo e quando possível um ótimo wingman. Tomou uma atitude louvável, aceitou o flerte e emendou: - Você é a garota que deu o número errado para meu amigo, não é?
Janaína ruboresceu.
Ele: - Desculpe garota, você pode ser linda, mas odeio gente mal educada. Podemos ser amigos, mas eu nunca ficaria com uma garota que passa o número errado para os outros, sempre se pode recusar.
Ela com um sorriso amarelo se desculpou. Disse que tinha me achado atrevido demais. Hoje nós três conversamos educadamente sentados na mesma mesa de bar.
O mundo dá voltas. Seja educado e saiba perdoar.
Kevin Rodhes - personagem do livro Terapia escrito por djpandacwb
Mídias, artigos acadêmicos, multidisciplinaridade, arte, história em quadrinhos, contos, poesias, tirinhas, fotos, imagens. Diário de um artista amador.
artista:def. pessoa que cultiva as belas-artes ou as artes mecânicas; pessoa que exerce uma arte; amante das artes; talentoso; astuto, manhoso.
amador:def. namorador; apreciador; cultor curioso de qualquer arte; aquele que tem conhecimentos pouco aprofundados sobre determinado assunto.
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